Carreira - Cargos e Salários

Sendo bem-sucedido em processos de seleção na área de TI: você faz a coisa certa? (Parte I)

Dicas preciosas baseadas na experiência prática para transformar sua entrevista de emprego em sucesso.

por Andre Furtado



Dicas preciosas baseadas na experiência prática para transformar sua entrevista de emprego em sucesso.

As mudanças proporcionadas pela tecnologia também causaram conseqüências na área de Recursos Humanos. Em busca do profissional de TI ideal, as empresas precisaram reinventar seus processos de recrutamento, inserindo elementos antes inexistentes, como buscas automáticas em bancos de candidatos, análise cronometrada da resolução de questões técnicas durante a entrevista e a avaliação de dinâmicas de grupo focadas em situações reais do mundo digital.

Como se preparar e se comportar, portanto, durante o processo de seleção (também conhecido como "recrutamento") de uma empresa de TI, transformando aquela entrevista de emprego em um verdadeiro sucesso? Seguem abaixo algumas dicas que coletei ao participar de processos de seleção de grandes empresas como a Microsoft, Google e British Telecom, assim como empresas locais menores.

Tendo sido aprovado em algumas, rejeitado em outras, relato que a primeira grande verdade é que não existe uma única receita de bolo ou bala de prata que servirá para garantir seu sucesso em qualquer situação. Existem, sim, boas práticas e deveres de casa que você não pode deixar de fazer para se diferenciar de outros candidatos.

Por outro lado, também vivi a outra face da moeda, analisando para o projeto MyTV quase duas centenas de candidatos (o que, de fato, não é nada comparado aos milhares de CVs que as gigantes de TI recebem... por dia!). Contemplarei em minha considerações, portanto, tanto o ponto-de-vista de empresas avaliadoras quanto o dos profissionais. Dado esse background, vamos às dicas.

Em primeiro lugar, antes de enviar o curriculum vitae (CV) para qualquer empresa, lembre-se: o processo de recrutamento é algo bidirecional. A empresa estará escolhendo (ou não) você da mesma forma como você estará escolhendo (ou não) a empresa. Ambos são "entrevistados", ambos são "candidatos". E, geralmente, dada a comprovada falta de profissionais de TI no mercado, é muito grande a chance da empresa estar mais interessada em você do que você nela.

Portanto, não se coloque como réu da situação. Pelo contrário, imagine que tudo ali está acontecendo para uma escolha na qual a palavra final é sua. A qualquer momento, você pode decidir cair fora e desistir, embora geralmente isso não seja o que você quer. Seguir essa postura em que você está no comando da situação, na pior das hipóteses, irá lhe ajudar a ficar mais calmo durante o processo.

Entretanto, não confunda a situação de conforto acima com acomodação. Se você realmente se interessou pela empresa e ela lhe dá os motivos suficientes para ser desejada como seu novo mundo profissional, é ilusão pensar que o excesso de vagas no mercado já irá automaticamente garantir a sua.

Em outras palavras: vagas sobrando é uma coisa, empresas contratando a torto e a direito (sem qualidade no processo de recrutamento) é outra, situação esta que raramente existe. As empresas preferem errar ao não contratar potenciais bons funcionários do que errar contratando funcionários de nível aquém do desejado.

Por exemplo, o Google afirma que, por causa de seus rígidos critérios de seleção, é natural que aconteçam os falsos negativos, isto é, deixar de fora pessoas que têm total capacidade e as habilidades desejadas pela empresa (mas que terminaram passando uma visão apenas razoável na entrevista).

A Microsoft também segue essa linha cautelosa do "ponto-de-corte", mesmo com o excesso de vagas em Redmond. Tal abundância de vagas, inclusive, é comprovada pelo fato da empresa informar que cada candidato compete consigo mesmo, e não com outros candidatos. Quem se mostrar minimamente interessante e competente de acordo com os critérios da empresa estará dentro, independente dos demais. Mas o ponto-de-corte existe, e é alto!

É hora de auto-criticar o seu CV

Não haveria outro caminho por onde começar do que mantendo um CV bem-estruturado e, obviamente, informativo. Nas grandes empresas de TI, seu CV na verdade faz parte de um grande banco de CVs, sendo analisado por máquinas que buscam, nos mesmos, palavras-chave relevantes para a posição de trabalho oferecida.

Dessa forma, atenção redobrada para aumentar as chances de que seu CV seja retornado nas buscas. Por exemplo, não diga que você tem "experiência em VB", e sim "experiência em VB (Visual Basic)". As palavras entre parênteses podem fazer a diferença na hora da pesquisa.

Certa vez, analisei o CV de um candidato que era, na verdade, uma imagem. Ele havia desenhado um gráfico para representar sua evolução profissional e acadêmica ao longo dos anos, com formas geométricas pintadas em cores diferentes para cada marco conquistado. Embora tenha ficado bonito e até cause a impressão de criatividade em um avaliador humano, tal CV falharia nas análises automáticas. Dessa forma, nunca é demais saber como seu CV será avaliado pela empresa desejada e adotar estratégias compatíveis.

Uma vez aprovado na análise automática (ou nas empresas em que tal análise não existe), seu CV será analisado por pessoas. Você não precisa ser nenhum designer, mas um mínimo de organização visual é importante.

Ter criatividade no leiaute é um diferencial, porém, isso jamais garantirá sozinho, sua seleção. Por exemplo, um candidato enviou à Microsoft uma enorme foto dele, recortada, em tamanho natural. Todos do time de recrutamento ficaram fascinados com a criatividade e ousadia do candidato, que passou pelo processo e teve uma entrevista agendada. Na entrevista, porém, ele terminou não sendo aprovado, o que evidencia a necessidade de outras habilidades além da criatividade.

A afirmação de que os avaliadores podem fazer uma leitura dinâmica nos CVs submetidos, infelizmente, é verdade. Através dessa leitura dinâmica, é decidido se seu CV merece ou não uma análise mais cautelosa. O risco de "morrer na praia" nesse momento é alto, caso seu CV não consiga colocar em evidência, de modo conciso e claro, todas as qualidades que você possui. Confira dicas de como evitar isso mais adiante.

Caso seu CV passe pelos crivos da leitura automática e dinâmica, uma etapa igualmente importante tem início: a leitura detalhada. Quando o avaliador realiza tal análise, está procurando respostas para algumas perguntas já em mente, como o quanto as habilidades e o perfil do candidato casam com a posição oferecida, ou ainda o quão profundamente o candidato tem experiência de trabalho em grupo ou em certa tecnologia específica.

Dessa forma, ao elaborar seu CV, aceite o desafio de contemplar tanto os pontos-de-vista do "avaliador-leitor dinâmico" como o "avaliador cauteloso", fazendo a si mesmo as perguntas abaixo. (Sugestão: abra seu CV agora e verifique se você consegue responder "sim" a todas as perguntas)

  • Estão claras minhas informações de contato no cabeçalho do CV, inclusive página pessoal ou blog (profissional), caso existam?
  • Constam no meu CV informações básicas esperadas, como experiência profissional, formação acadêmica e conhecimento de línguas estrangeiras?
  • Deixei claras as tecnologias e habilidades com que trabalhei em cada experiência acadêmica ou profissional relatada?
  • Estou informando o tempo de trabalho de cada experiência relatada, assim como a duração de cada curso reportado?
  • Enfatizei diferenciais como certificações, títulos ou conquistas em competições na área?
  • Evitei ser "verboso" demais, nunca descrevendo habilidades e experiências com longas e cansativas frases?
  • Enfatizei meus pontos-chave adequadamente, com texto em negrito (mas sem exageros) onde necessário, por exemplo?
  • Evitei ofuscar o que realmente é importante com informações que apenas ocupam espaço? Por exemplo, se você fez a prova ABC para poder obter a certificação XYZ, considere reportar apenas a certificação.
  • Se decidi incluir uma foto no CV, tomei os cuidados para que ela pareça minimamente profissional?
  • Evitei a repetição de informações?
  • Evitei o uso de buzzwords que nada agregam? Por exemplo, considero que citar como habilidades "capacidade de trabalho em equipe" ou "proatividade" algo completamente desnecessário, que vai ocupar o espaço de outros tópicos mais importantes. Tais habilidades são esperadas em qualquer profissional de TI hoje, e se você realmente as tem, poderá comprová-las em outras seções no CV (como em projetos relatados na seção sobre experiência profissional).
  • Estou justificando a aquisição das habilidades reportadas? Por exemplo, dizer que você tem "fluência em inglês" sem nem ao menos informar como a obteve pode gerar desconfiança no avaliador. Se você fez cursos de inglês, é importante informar isso, de maneira concisa, em especial a duração. Se você tem experiência prática no exterior, não informar isso é desperdiçar uma oportunidade excelente para se destacar.
  • Tenho como mostrar evidências de cada item reportado, caso solicitado pela empresa?
  • Todos os dados informados, inclusive de contato, estão atualizados? Lembrei e incluí aquele importante curso e/ou certificação recentemente obtidos?
  • Ao terminar tudo, reli todo o texto e utilizei um corretor ortográfico?
  • Solicitei a opinião de uma segunda pessoa sobre o conteúdo e apresentação do CV, em busca de feedback externo e não tendencioso?
  • O tamanho do CV está apropriado?

O último questionamento é particularmente importante. Pessoalmente, acho que uma página para o CV é pouco, duas é bom e três é aceitável. De quatro em diante, entretanto, torna-se excessivo.

Já analisei um CV com quinze (!) páginas, que pormenorizavam todos os detalhes da vida profissional e acadêmica do candidato. Nesse caso, são grandes as chances do avaliador julgar que o candidato não sabe organizar e estruturar conteúdo (mesmo sendo conteúdo que diz respeito a ele próprio).

Um ponto que gera bastante polêmica é informar ou não o salário desejado no CV. Controvérsia à parte, considero que informá-lo é uma escolha infeliz, podendo ser interpretada como antecipação ou até mesmo como algo rude em alguns processos de recrutamento. Lembre-se: você pode estar lidando com culturas regionais ou internacionais bem diferentes da sua!

Em primeiro lugar, existem outras maneiras mais elegantes de se fazer isso. Por exemplo, você pode informar a posição de trabalho almejada (ou posições), sem citar valores. Obviamente, você deve ter feito uma pesquisa prévia da média salarial de tal posição na região em que deseja trabalhar, assim como se identificar realmente com a posição.

Em segundo lugar, dar ênfase ao salário desejado logo de início pode colocar em suspeita seus reais interesses no emprego. Empresas de TI cada vez mais procuram profissionais que evidenciem criatividade, competência técnica e paixão pela área, entre outros valores, portanto tente colocá-los na frente de qualquer ambição salarial. Isso não quer dizer que você não deve se valorizar ou não procurar negociar no caso de insatisfação, porém isso é assunto para a segunda parte deste artigo.

Adicionalmente, cada empresa possui uma política de definição/negociação de salário, com momentos específicos para isso em seu processo de recrutamento. Saber respeitar esse processo é importante. Há boas chances do alinhamento das expectativas salariais acontecerem logo na primeira entrevista pessoal, embora isso não aconteça no caso de gigantes como Google, Microsoft e British Telecom.

Por fim, considere a possibilidade de alterar sutilmente o seu CV de acordo com a empresa e a posição de trabalho para a qual você está aplicando, enfatizando pontos esperados e relevantes naquele processo de recrutamento específico. Por exemplo, ao aplicar para uma posição de Engenheiro de Testes, dê maior ênfase à experiência que você coletou na área, seja na forma de participação em projetos, eventos, publicações ou certificações relacionadas.

Este artigo discutiu sobre como preparar seu espírito e estruturar um CV competitivo para processos de recrutamento no mundo de TI. Na segunda parte, estarei discutindo sobre como se preparar e se portar nas famigeradas entrevistas de emprego, sejam elas por e-mail, pessoais ou por telefone. Até lá!

Andre Furtado

Andre Furtado - Engenheiro de software e consultor do projeto Partec-MyTV, doutorando, mestre e bacharel em Ciência da Computação pela UFPE, Microsoft Student Partner, Certified MSF Practitioner, MCP, Certified IBM-DB2 Specialist, SCJP 1.4, um dos líderes do grupo de usuários Sharp Shooters .NET e campeão mundial das competições Imagine Cup 2005 e 2007.