Tech - Análise Sistemas

O futuro da indústria de TI

Interessante artigo que descreve a opinião do autor sobre algumas tendências identificadas no mercado de tecnologia.

por Breogán Gonda



Há alguns meses, um executivo japonês visitou o Uruguai em uma viagem basicamente protocolar. Em meio às conversas, decidi abandonar a formalidade e, dispensando o tradutor, expliquei a ele que havíamos pesquisado muito o campo da administração automática do conhecimento. Essa experiência havia nos permitido desenvolver uma tecnologia única que permite o desenvolvimento sem programação.

Em minutos o ouvinte passou a expositor. E suas palavras demonstravam um temor grande, uma busca pela salvação da indústria de software do seu país. Segundo ele, se países como o próprio Japão continuarem a política de desenvolvimento da maneira como é feita hoje, em pouco tempo esse processo será transferido para locais com recursos humanos qualificados e salários muito menores.

Esse fenômeno não é novo, ele apenas repete o que já aconteceu com a indústria de manufatura. Aos poucos a produção migra dos países desenvolvidos para seus vizinhos menos desenvolvidos. Quando se trata de produção em grandes volumes a globalização opera, os fretes diluem-se e a diminuição de custos assume um papel essencial.

Essas experiências podem ser estendidas à indústria de TI? Sim, podem, mas existem algumas dificuldades específicas. Por tratar-se de algo mais complexo, menos “empacotável”, certas coisas dificilmente poderão ser transportadas, como a descrição de “o que se quer”. Mas as tarefas de desenvolvimento, em geral, já estão sendo transportadas, ambientando alguns elementos específicos – parâmetros e ferramentas que ajudem a administrar esses parâmetros. Em particular, que ajudem uma grande quantidade de pessoas a desenvolver da maneira tradicional, programando basicamente à mão, sem perder a qualidade do original.

Apenas para ilustrar, o artigo “Move Over, India”, publicado pela revista norte-americana Business Week em agosto de 2003, diz que as exportações de software e serviços da China e da Índia em 2007 chegarão a US$ 27 bilhões cada. Em comparação aos resultados obtidos em 2002, a conclusão é preocupante – nesse ano a China exportou US$ 400 milhões, e a Índia, US$ 8 bilhões. Entretanto, além de China e Índia, existem outros 20 países que estão de olho nesse mesmo negócio e, por eles, pode-se estimar que exportarão em 2007 mais de US$ 60 bilhões.

Mas será que esse processo fatalmente afetará todas as atividades? Não, apenas aqueles produtos e serviços que possam ser transformados em commodities. Não afetará aqueles que tenham vantagens únicas e que trabalhem permanentemente para mantê-las ou aumentá-las.

O processo de desenvolvimento é particular o suficiente para merecer atenção especial. Para que algo seja desenvolvido, alguém precisa descrever o que necessita e produzir especificações precisas que construam a memória descritiva do que se contrata. É nesse momento que entra a figura do programador, e que as corporações conseguem transferir seu trabalho para os locais citados no início desse texto.

Imaginemos, por um momento, que essa descrição da realidade possa ser feita com uma ferramenta inteligente, com a qual poderíamos interagir de maneira objetiva, definindo visões de usuários, regras de negócios e nada mais. Mas isso seria suficiente, uma vez que o projeto da base de dados e programas, sua geração e manutenção, passariam a ser automáticos. Se procedermos dessa maneira, o desenvolvimento passaria a ser um subproduto automático e gratuito dentro do processo de descrição e, ao invés de programadores, existiriam analistas de negócios e engenheiros de conhecimento. As corporações não mais precisariam transferir parte de suas operações para países com salários mais baixos.

Ficção científica? Não, apenas tecnologia já disponível no mercado, por meio de ferramentas baseadas no conhecimento. E, caso a indústria de TI não adote esse novo paradigma, sofrerá a mesma sorte da indústria de manufatura, transferida para países com salários muito mais baixos.

Breogán Gonda

Breogán Gonda - Presidente da Artech