Gerência - Metodologias e Processos

Projeto é amor, metodologia é poesia

Nestes votos de ano novo, vamos invocar todo o exoterismo presente nos técnicos de informática e antecipar as tendências que serão os assuntos da “moda” e irão gerar oportunidades de consultoria. Os assuntos serão: Qualidade e segurança...

por Fabio Camara



Nestes votos de ano novo, vamos invocar todo o exoterismo presente nos técnicos de informática e antecipar as tendências que serão os assuntos da "moda" e irão gerar oportunidades de consultoria. Os assuntos serão: Qualidade e segurança.

No tema qualidade podemos estender em ramificações como por exemplo, produtividade, organização e controle. Tudo isso colocado em um liquidificador pode ser classificado na ciência da metodologia.

No tema segurança será explorado a proliferação dos "hackers" que começarão a invadir sistemas web que inadequadamente foram colocados na internet. Muitos destes sistemas não necessitavam estar na web e pior, foram construídos por técnicos como se fossem sistemas comuns que funcionariam em uma LAN com usuários corporativos. É fácil encontrar destes sistemas em sites de empresas que apesar de possuírem um módulo de login, trafegam sem criptografia os dados de nome do usuário e senha.

A grande onda chamada metodologia

Os projetos de desenvolvimento de software hoje nos apresentam uma curiosa prática antagônica: de um lado contratam-se caros gestores de projetos certificados no PMI - Project Management Institute, do outro lado contratam-se baratos programadores iniciantes que conhecem somente o que é uma linguagem de programação e um pouco de lógica para aplicá-la.

Do ângulo de visão que observamos este cenário, parece-nos que estamos atacando o efeito e não a causa. Acontece que historicamente os patrocinadores de projetos - project sponsors - determinam que os riscos de um projeto "estourar" seu orçamento previsto é crítico e, em face disso, é uma atitude salutar a diminuição do risco contratar mão de obra barata. Não temos idéia se em ciências econômicas esta teoria faz algum sentido, mas no jogo dos projetos esta regra sequer foi cogitada para figurar entre o livro de boas práticas para a construção de projetos de software.

Quando os project sponsors observaram que as realizações mantiveram-se medíocres ou pioraram, estudaram uma forma de não admitir que precisavam de desenvolvedores seniores e colocaram a "culpa" no amadorismo dos controles. Neste momento introduziram-se os profissionais de controle e gestão como uma espécie de auditores em projetos de desenvolvimento de software.

Na minha leitura, os PMPs - Project Management Professionals trouxeram uma rica contribuição aos resultados de alguns projetos, a cultura da "previsibilidade", contudo o que mudou de fato é que você não descobrirá que sua entrega está atrasada na véspera da data planejada, saberá com dias de antecedência. E daí? Daí os project sponsors podem escolher entre contratar desenvolvedores seniores ou pedir postergações ao cliente.

Os PMPs, que quando leio esta sigla lembro-me de Polícia Militar, não entram dirimindo questões técnicas do projeto e nem mesmo questões de negócios, exceto temas relacionados com escopo ou gerência de mudanças. Por isso, segundo minha visão, existe uma enorme nuvem nebulosa entre os gestores de projetos e os desenvolvedores do projeto como representado na figura 1.

Entende-se por tarefas de trabalho as atividades planejadas no cronograma para serem executadas. Entende-se por itens de trabalho as atividades que os programadores desempenham durante um projeto. Afirmar que tarefas de trabalho são iguais a itens de trabalho é uma inverdade na maioria dos projetos que pesquisei.

Com a finalidade de clarear a nebulosidade desta nuvem, os project sponsors estão acreditando que a solução será usar uma metodologia de desenvolvimento de projetos de software. O objetivo a priori é garantir que uma tarefa de trabalho planejada é exatamente o item de trabalho em execução pelo desenvolvedor, entretanto também se entende que existirão outros benefícios.

Amor e poesia

O mundo dos projetos tende a ficar melhor. Hoje estamos há poucos passos de automatizar as metodologias e entender que precisamos de mais pessoas seniores participando de nossos projetos além do PMP. Novas ferramentas e novas propostas metodológicas permitem-nos prever esta afirmativa de "poucos passos", contudo isso dependerá muito de como os project sponsors vão se posicionar. Por exemplo: Ao invés de automatizar com ferramentas adequadas o ciclo de vida de desenvolvimento de projetos, a decisão pode ser optar por certificações CMM e suas ramificações.

_ Projeto sem metodologia é amor, metodologia sem ferramentas de controle e automação é poesia.

Amor porque você precisará de um "super" gestor, não somente com conhecimentos de gestão, mas com válidos conceitos de tecnologia e principalmente negócios. Aliado a ele, um time de desenvolvedores verdadeiramente comprometidos com os resultados. A harmonia entre eles será determinística a resultados com sucesso.

Poesia porque implantar metodologias é aumentar consideravelmente o trabalho de pessoas que já devem estar super alocadas. Burocratizar não é sinônimo de organizar. Muito poucas metodologias são práticas e infelizmente estas poucas não são populares no Brasil. É impressionante como todos afirmam que as metodologias são úteis no papel, são admiráveis, como uma poesia, mas nada funcionais quando colocadas na prática.

Esperar da poesia devir em amor é muito novelístico mesmo para os padrões surrealistas atuais. Assim como o projeto, o amor tem seu próprio ciclo de vida. Tornar as metodologias práticas a sua realidade, ter ferramentas de apoio às metodologias e um time de projeto mesclado entre seniores e iniciantes é uma introdução coerente à inteligência e a especialidade observadas nos projetos.

Qual a receita?

Assim como não existe receitas exatas para o amor, não espere das metodologias soluções exatas para seus projetos. Projeto é uma ciência sensata, precisa de intuição para as decisões corretas.

Entenda as metodologias como propostas de direções sensatas, aplique estas propostas com responsabilidade, utilize ferramentas que o ajudem a controlá-las e, principalmente, nunca menospreze a diferença que os seres humanos inteligentes farão em seus resultados.

Estudamos seriamente Software Engineering Process, Software Configuration Management e Software Development Life Cycle, mas a fundamentação prática baseada em realizações históricas reais guiou-nos como que psicografando este texto.

Eis nossa colaboração para as decisões futuras, até porque mudanças evolutivas são necessárias.

O título deste artigo foi inspirado no livro escrito por Arnaldo Jabor intitulado "amor é prosa sexo é poesia".

Fábio Câmara, MCP, MCSA, MCSE, MCAD Charter, MCDBA, MCSD.NET e MSF Practitioner - Está acostumado a solucionar conflitos em projetos mostrando que tentar resolver apenas uma ciência de projeto é como tentar explodir um iceberg jogando bombas em sua parte visível. Escreveu os livros "Projetos com Windows DNA e .NET", "Dominando o Visual Studio.NET com C#", "58+ Soluções em .NET" e "Orientação a Objeto com .NET" dentre outros.

Fabio Camara

Fabio Camara - MVP VSTS, MCT, MCP, MCSD, MCTS, MCPITP, MCPD, MSF Practitioner, Certified SCRUM Master, Certified ITIL Foundations. Escreveu mais de 15 livros nesta última década. Atua como consultor de produtividade em desenvolvimento de projetos e professor de disciplinas ágeis de engenharia de software. Pode ser localizado no site http://www.fcamara.com.br.