Gerência - Metodologias e Processos

Gestão de Pessoas em Projetos de Software

Esse artigo pretende tratar ainda que introdutoriamente de um tema freqüentemente relegado a segundo plano em projetos de software: a gestão das pessoas envolvidas em projetos de software.

por Márcio Andrade Silva



Resumo: Esse artigo pretende tratar ainda que introdutoriamente de um tema freqüentemente relegado a segundo plano em projetos de software: a gestão das pessoas envolvidas em projetos de software.

Já fazem alguns anos que gerenciar projetos deixou de ser uma arte. Inúmeras metodologias ensinam passo a passo como decompor e atingir as metas de um projeto, chegando a uma riqueza de detalhes que inclui listar os entregáveis de cada fase do projeto. Portanto, basta seguir uma metodologia tal qual o PMI descreve em seu clássico PMBOK e tudo vai acabar bem, certo? Errado. Nunca poderemos nos esquecer de que planejar e executar um projeto é um empreendimento humano, ou seja, um empreendimento tocado por seres humanos. Seres humanos tem sentimentos, desejos, expectativas, conhecimentos e conflitos que influenciam e muito a realização das metas de um projeto. Definir o escopo do projeto, determinar prazos e controlar os custos são algumas das muitas atividades do projeto, porém não há nada mais complexo no escopo de um projeto que gerenciar e tratar as expectativas de todos os envolvidos na sua execução, especialmente, do time do projeto.

Num ambiente clássico de projetos de software uma equipe é formada a partir da união de pessoas muitas vezes desconhecidas umas das outras, que tem que colaborar entre si para que o objetivo do projeto, ou seja entregar um produto funcionando, dentro do prazo e custo orçado viabilizando metas estabelecidas geralmente por terceiros e das quais essa equipe na maior parte das vezes não pode opinar. Pense bem, é muita pressão e quem tem a incumbência de gerenciar toda essa pressão é ninguém menos que o gerente de projeto. Soma-se a isso o fato de que o próprio gerente do projeto tem ele mesmo que lidar com a pressão exercida pelos seus superiores e com o fato de que nem sempre é possível conhecer a priori a "qualidade" dos recursos (leia-se pessoas) que tem para trabalhar. Em instituições de desenvolvimento de software, nem sempre o recurso disponibilizado é o recurso desejado e adequado para determinada tarefa, mas sim o recurso que está disponível no momento.

Muito pouco tempo e muitas vezes nenhum tempo é disponibilizado ao gerente de projetos para que esse conheça e compreenda o perfil das pessoas que integram a sua equipe de trabalho. Um conhecimento mínimo sobre as habilidades pessoais, conhecimentos técnicos, formação acadêmica, tempo de casa e mesmo expectativas profissionais e pessoais deveriam fazer parte do escopo de atividades do gerente de projetos. Esse em última análise é o responsável pelo desenvolvimento do time de projeto. Infelizmente, esse alinhamento de expectativas da empresa para com seus funcionários ainda não passa de uma utopia no cenário brasileiro de desenvolvimento de software. Regra geral, a empresa que não consegue visualizar que um funcionário que recebe constante reconhecimento (financeiros, de estima, etc) , capacitação e desafios produz melhores resultados para a empresa, pois sua dedicação será bem maior por trabalhar em algo que realmente acredita. Perde também claro, o funcionário que não tendo os fatores motivacionais básicos acima citados, desinteressa-se completamente pelo que esta fazendo.

Temos na indústria da tecnologia da informação um grande problema. Não se alocam administradores para liderar equipes de projetos. É uma prática corrente deslocar profissionais técnicos para cargo de gerência de projetos, seja porque o mesmo se destacou pelos trabalhos desenvolvidos com técnico ou por tempo de serviço. De forma geral acredita-se que a sabedoria para gerenciar projetos vem com o tempo. Grandes desperdícios de tempo e dinheiro poderiam ser evitados se a alta administração das organizações através dos seus departamentos de recursos humanos alocassem os profissionais corretos para a gestão de projetos. E qual seria o perfil correto para um gestor de projetos? Na nossa visão, alguém organizado, disciplinado, com algum background técnico e de negócios sobre a sua área de atuação, mas principalmente com algumas habilidades de relacionamento interpessoal e de inteligência emocional que geralmente não são encontrados com facilidade em profissionais de tecnologia da informação.

Todos tem alguma história triste para contar sobre gerentes para os quais trabalharam e que em nada contribuíram para o sucesso do projeto e muito menos para o seu desenvolvimento pessoal. Eu mesmo, há algum tempo atrás trabalhei em uma pequena empresa produtora de software que tinha por hábito colocar na gerência de projetos os profissionais mais velhos de casa, mas nem sempre preparados para gerenciar equipes. O resultado quase sempre eram equipes extremamente desmotivadas, perdidas, alto turnover de funcionários e projetos invariavelmente atrasados, resultando em clientes constantemente insatisfeitos, ou seja um completo desastre. Não é difícil entender que empresas tais como essa do exemplo citado, não conseguem crescer, mantendo o seu nível de faturamento sempre estável, quando não em ritmo decrescente, não conseguindo por vezes honrar nem mesmo os compromissos financeiros assumidos com sua equipe de trabalho, levando ao um círculo vicioso de mais desmotivação, falta de comprometimento e quebra constante no nível de serviço prestado aos clientes de seus projetos.

Portanto é de suma importância que as empresas de T.I. de um modo em geral passe a atentar para o fato de que um os seus projetos de software exigem um tipo de diferente profissional para comando-lós. Os profissionais de software também que desejam atuar como gerente de projetos de software, precisam ampliar seus horizontes, procurando desenvolver outras competências além do espectro técnico de suas funções, procurando ter uma visão do ambiente onde seu projeto esta envolvido como um todo, dando assim uma contribuição importante no desenvolvimento das pessoas envolvidas na execução das metas do projeto e por conseqüência, maximizando as chances de sucesso do projeto.
Márcio Andrade Silva

Márcio Andrade Silva - Formado em análise de sistemas pela FAFI-BH.
Pós graduado em Engenharia de Software pela PUC Minas.
MBA em Gestão de Negócios pela UNA - BH