Gerência - Metodologias e Processos

Gestão e metodologias ágeis: E existe outro tipo?

Por mais que se pense o contrário, mas não existe Gestão Ágil. Existe apenas Gestão. E também não existem metodologias ágeis, mas sim, metodologias. Pode parecer óbvio, mas afinal, se não são ágeis de que serviriam?

por Roberto Capra Neto



É interessante notar a maneira com que algumas s coisas são vendidas. Conceitos e idéias são constantemente remontados, e revendidos como panacéias ou fórmulas mágicas. O fato é que os conceitos vem e vão, as metodologias e modelos também. Sei que vão vir pedradas de todos os lados... mas antes de mandarem as pedras, reflitam se as idéias desse artigo não fazem algum sentido.

Por mais que se pense o contrário, não existe Gestão Ágil. Existe apenas Gestão. E também não existem metodologias ágeis, mas sim, metodologias. Pode parecer óbvio, mas afinal, se não são ágeis de que serviriam?

O mesmo se aplica aos processos. Se não são ágeis, não servem! Se são burocráticos demais, também não. Então para ser ágil, devemos obrigatoriamente adotar uma metodologia que tenha ágil no nome? A resposta certamente é NÃO.

Nesse momento os partidários provavelmente devem estar querendo me criticar. Certamente vão dizer que as metodologias ágeis são embasadas em uma filosofia, vão mandar que eu pesquise o manifesto ágil e todos os seus princípios. Aliás, muito bem escritos e corretos. E já ressalto que concordo com todos eles.

Porém, o que eu gostaria de ressaltar nesse artigo é que a questão está na interpretação do manifesto, e na percepção (errada) de que ele é aplicável somente nas chamadas "metodologias ágeis". Se pensarmos bem, não faz sentido imaginar que existem dois caminhos: Ágil e "não ágil"... realmente, é um jogo de palavras que faz com que muitos sejam levados a pensar que existe apenas um caminho a seguir.

No que tange a questão, o ponto chave não é o MEIO, mas o FIM. Quando uma empresa de software decide melhorar a qualidade de seus produtos e processos ela tem vários caminhos a seguir. E grande parte delas, inicia por uma gestão voltada à processos (em geral, embasados em modelos). Logo após, pensa em como melhorar os processos definidos, mas deve fazer isso tendo em mente um objetivo comum: A qualidade final do produto entregue e satisfação do cliente. Como já citei em outro artigo - A culpa é desse tal de CMMI - o objetivo dos modelos é a qualidade dos produtos e processos, e não a certificação.

Outra questão utilizada como bandeira pelos defensores ferrenhos da causa "ágil", é que se uma empresa adota uma gestão por processos, ela está deixando de lado as pessoas. Pois então, podemos concluir que a estratégia de adotar a gestão por processos é minimizar a importância das pessoas? Definitivamente NÃO! E esse é mais um conceito deturpado. Os modelos de Gestão priorizam as pessoas, que sempre terão sua importância destacada em qualquer organização. Os bons profissionais sempre serão valorizados e são peças chave em qualquer processo.

Falando em modelos, um dos largamente adotados mundialmente é o CMMI. Quando uma organização o adota, passa a definir seus processos com base nele. A partir daí, começa a pensar em maneiras de implementar as melhores práticas através da aplicação de técnicas e metodologias. E aí entra o X da questão: Os processo devem sempre ser ágeis. E o que é um processo ágil? É aquele que segue uma metodologia ágil? Pode até ser, mas antes de tudo, um processo ágil é aquele que comporta projetos de diferentes tamanhos, planeja as atividades, faz engenharia de requisitos, definição e gestão do escopo, firma compromissos, gerencia as mudanças e posteriormente, aplica padrões desenvolvimento, testes, homologação. No caso de "projetos curtos", ciclos muito pequenos, o processo deve ser flexível para ser adaptado à diversas situações. E o que não é tão óbvio para alguns é que bons processos são flexíveis o suficiente para terem partes de seu conteúdo suprimidas ou adaptadas para projetos considerados menores (ciclos curtos como uma semana por exemplo). E isso varia de organização para organização. Tudo isso para ao final, entregar um produto com qualidade (inteiro ou em partes, dependendo do cenário), validado e de acordo com o que foi solicitado.

Outra questão que gera polêmica: Os processos podem suportar partes de diversas metodologias conhecidas: XP, Scrum, MSF, FDD, PMBOK, etc., de acordo com os diferentes cenários de cada organização. E essas metodologias são um MEIO, extremamente válido. Utilizando algumas práticas do XP por exemplo, você estará atendendo uma série de melhores práticas de Engenharia de Software definidas no modelo CMMI.

Ao desenhar um processo você deve ter em mente o cenário ao qual ele será aplicado, e não precisa necessariamente aplicar ao pé da letra o que diz um modelo ou metodologia. O analista de processos deve utilizá-las como um set de ferramentas onde pode escolher o melhor de cada uma, e adequar o processo àquela realidade, sem poluí-los desnecessariamente.

Eu acredito que o que leva pessoas com certa vivência em projetos a pensar que existem pontos divergentes sobre a questão "Aggile" e outras é o simples fato de que, algumas vezes, quem define os processos preocupa-se mais em burocratizá-lo do que apresentar o real benefício de seus controles. Esse é verdadeiro problema, e não o CMMI, PMBOK, BABOK, SEBOK, COBIT, ISO e outros.

Todos os modelos e bases de conhecimento citados tem objetivos comuns, mas dentro de sua especialidade. E de acordo com cada área de conhecimento, você pode aplicá-los juntos! Isso dá o real conceito de GOVERNANÇA.

Mas isso seria assunto para outra discussão e outro artigo.

Se chegaram até aqui, guardem a mensagem: Não existem "metodologias ágeis", mas sim metodologias! E também não existe gestão ágil, e sim GESTÃO... são um MEIO para um FIM (qualidade do produto final).

Pense nisso!

Em nosso contexto (vida real), se não é ágil, então não serve.

Grande abraço,

Roberto Capra Neto.
Roberto Capra Neto

Roberto Capra Neto - Mestrando em Engenharia da Computação, bacharel em Sistemas de Informação, Green Belt Six Sigma, especialista em sistemas distribuídos e Internet, com atuação em diversas empresas nacionais. Membro do SEPG (Software Engineering Process Group) da Serasa - ML3, na adoção de processos com base no modelo CMMI (Capability Maturity Model Integration) - foco nas áreas de Gestão de Projetos, Engenharia de Software e Gerência de Configuração.